Do Lamento ao Louvor

Há momentos em que a alma parece carregar mais peso do que os ombros suportam. Situações que se arrastam, dores que não passam, orações que parecem bater no teto.

O Salmo 13 nos ensina que o caminho do crente, embora marcado por aflições, é sustentado por Deus desde o primeiro suspiro de angústia até o último canto de louvor. Este salmo nos mostra quatro lições preciosas do lamento ao louvor:

1º Nomear a dor“Até quando, Senhor?”

Davi não começa fingindo força, nem escondendo fragilidade. Ele expressa sua dor diante de Deus.

“Até quando, Senhor?… Até quando escondes de mim o teu rosto?”

O cristão não foi chamado a negar a própria tristeza. Deus não exige máscaras espirituais. O lamento não é falta de fé; é ferida que se recusa a deixar de crer.

Quando a ansiedade apertar o peito, quando o casamento passa por desgaste, quando a enfermidade insiste, quando as finanças não acompanham o custo de vida, quando você ora há anos por um filho que se afastou, nomeie sua dor diante do Senhor. Não esconda o que Ele já vê.

Cristo mesmo chorou, lamentou, e levou sua alma ao Pai. Você não caminha sozinho.

2º Suplicar“Olha para mim e responde-me, Senhor, meu Deus!”

Depois de expor o coração, Davi pede. Não é um pedido frio, formal, litúrgico: é um grito que nasce do fundo do peito. A súplica é quando a dor se transforma em oração.

Orar mesmo quando você não sente vontade, clamar mesmo quando parece que Deus está em silêncio, dobrar os joelhos quando a alma está cansada e pedir força quando você já não tem forças de pedir.

3º Confiar“Eu confio na tua graça.”

Depois do clamor, algo muda. Não mudam as circunstâncias, muda o coração.

A palavra “graça” aqui é hesed: o amor leal da aliança, o amor que não falha, o amor que sustenta quando tudo cai.

Confiar não é sentir que Deus está agindo. É crer que Ele está agindo, mesmo quando você ainda não vê.

Confiar é: continuar indo ao culto quando a alma quer ficar em casa, manter a disciplina devocional mesmo quando parece infrutífera, manter a fidelidade a Deus quando tudo incentiva a desistir e crer que Deus está operando no silêncio.

A confiança cristã repousa em Cristo. Se Deus não poupou o Seu próprio Filho por você, não o abandonará agora.

A cruz é a garantia de que o silêncio de Deus nunca é abandono.

4º Louvar“Cantarei ao Senhor, porque me tem feito muito bem.”

A situação de Davi não mudou. Mas ele mudou. Ele decide louvar antes da resposta, antes do livramento, antes da cura, antes do milagre.

Cantar mesmo chorando, agradecer mesmo sem entender, adorar mesmo sem explicar e celebrar mesmo esperando

Esse tipo de louvor é possível porque Cristo transformou o maior lamento da história que foi a cruz no maior cântico da vitória: a ressurreição.

Que o Senhor te ensine a transformar seu lamento em louvor.

E que, mesmo no “até quando”, você experimente a presença daquele que jamais abandona seus filhos.

Por: Rev. Orlando Coutinho.